Teses Defendidas

O agronegócio neoliberal, a sustentabilidade ambiental e a exploração do trabalho braçal em canaviais de São Paulo

Gilberto Araújo

Data de Defesa
29 de Outubro de 2024
Programa de Doutoramento
Relações de Trabalho, Desigualdades Sociais e Sindicalismo
Orientação
Stefania Barca
Resumo
O objetivo desta tese é analisar a sustentabilidade do agronegócio sucroalcooleiro no Pontal do Paranapanema (SP) enquanto questão socioecológica. A hipótese diz respeito em haver uma interligação entre a exaustão do trabalho braçal em canaviais e a degradação do meio ambiente. A pergunta principal trata de como se relaciona a exploração dessa força de trabalho (cortadores de cana) com o esgotamento do solo, tendo em vista o impacto da erosão, o alto consumo de agrotóxicos e a perda gradual de nutrientes. A seguir, questionamos se é possível sonhar com a ecologia política dos biocombustíveis (etanol e biodiesel) no Brasil. Isto porque, com o avanço do agronegócio, açambarcando 'novas fronteiras agrícolas' no estado de São Paulo, dificilmente surgirão políticas públicas capazes de preservar o meio ambiente, afetado pela monocultura intensiva da cana-de-açúcar e sua produção de biocombustíveis. Indagamos se seria viável o cultivo 'sustentável' da cana sem prejuízo dos ecossistemas locais.

O enquadramento teórico considerou a ecologia política enquanto campo de estudos interdisciplinar. A ecologia política utiliza ferramentas como geopolítica, comércio justo, democracia participativa, agricultura orgânica, ecologia do trabalho, passivo ambiental, decrescimento sustentável. Abordamos a economia capitalista neoliberal e a ecologia dos biocombustíveis no Brasil, em relação às políticas de desenvolvimento e do trabalho, e as alternativas agroecológicas. A metodologia envolveu pesquisa bibliográfica em estudos científicos enfocados nas condições do solo e das águas na região do Pontal, mais 56 entrevistas não estruturadas de trabalhadores/as das Usinas Atena, Alto Alegre e outras. A pesquisa etnográfica buscou-se descrever a composição social de cortadores/as de cana, a maioria migrantes do Norte e Nordeste.

Como resultados do estudo, afiançamos que o setor sucroalcooleiro, apoiado pelos governos federal e estadual, não apresenta sinais de mudança em sua política de exploração do agronegócio canavieiro, predatório do meio ambiente, e nem tampouco na superexploração da mão de obra em canaviais do Pontal. Ao contrário, continua a prevalecer a política de estímulo à construção de novas agroindústrias, para expandir a plantação de cana-de-açúcar no território paulista. Cabe então ressaltar: qual o motivo de uma atividade econômica tão lucrativa manter a remuneração de trabalhadores/as rurais com um salário de subsistência? Nas conclusões, defendemos um modelo agroecológico voltado para a agricultura familiar, contrário à atual agricultura conservadora brasileira, exímia consumidora de agrotóxicos.

Palavras-chave: agronegócio neoliberal, cortador de cana, burnout, Pontal do Paranapanema, meio ambiente, agroecologia