Teses Defendidas

Interseção de raça, género e classe - uma análise das experiências de gravidez, parto e pós-parto das mães negras e afrodescendentes em Lisboa

Laura Brito

Data de Defesa
22 de Julho de 2024
Programa de Doutoramento
Pós-Colonialismos e Cidadania Global
Orientação
João Arriscado Nunes e Susana de Noronha
Resumo
A presente tese de doutoramento investigou as experiências de gravidez, parto e pós-parto de mulheres negras e afrodescendentes em Lisboa. O objeto de estudo concentrou-se nas experiências de mulheres negras e afrodescendentes, considerando a interseccionalidade como forma de análise. Compreender a maternidade sob uma perspetiva interseccional permitiu examinar como as identidades múltiplas, incluindo raça, género e classe, influenciam as experiências das mulheres ao longo do ciclo de gravidez, parto e pós-parto. Em termos metodológicos, foram aplicados questionários de autopreenchimento, tendo sido recolhidas 119 respostas válidas. Além disso, foram conduzidas 17 entrevistas aprofundadas. O trabalho associativo no contexto da luta por justiça reprodutiva também foi abordado etnograficamente, como parte integrante da investigação. Os resultados da tese revelaram uma realidade complexa e multifacetada. As mulheres negras e afrodescendentes em Lisboa, apesar de terem acesso aos cuidados de saúde durante a gravidez, enfrentam frequentemente microagressões raciais e de género ao longo da sua jornada de gestação. Mesmo quando as leis de base da saúde garantem atendimento adequado, a relação com as equipas de saúde muitas vezes é marcada por discriminação e estereótipos, criando momentos de tensão. O estudo enfatizou a necessidade de abordar de forma mais profunda as cicatrizes deixadas pelo colonialismo e pelo racismo estrutural que permeiam as estruturas de saúde em Portugal. Essas barreiras impedem que as mulheres negras e afrodescendentes vivenciem plenamente a maternidade, privando-as de uma experiência livre de violência racial e de género. Como conclusão, destaca-se a importância de uma abordagem interseccional na análise das experiências de maternidade de mulheres pertencentes a minorias étnicas. Além disso, salienta-se a necessidade urgente de medidas que visem eliminar a discriminação racial e de género nos sistemas de saúde, a fim de garantir que todas as mulheres, independentemente da sua origem étnica, possam experienciar uma maternidade segura e respeitosa.

Palavras-chave: interseccionalidade; saúde reprodutiva; violência obstétrica; racismo obstétrico