Seminário

Masculinidades e colonialismo: degeneração e regeneração das identidades nas Literaturas de Língua Portuguesa do século XX // Raça-etnia/interseccionalidades/crítica queer/periferias

Emerson da Cruz Inácio

Mário César Lugarinho

6 de fevereiro de 2020, 16h00

TP2, Faculdade de Letras da UC

Enquadramento

Seminário duplo, aberto, no âmbito do Programa de Doutoramento em Literatura de Língua Portuguesa (DLLC, FLUC), em colaboração com o Programa de Doutoramento em Estudos Feministas (CES/FLUC).  

Masculinidades e colonialismo: degeneração e regeneração das identidades nas Literaturas de Língua Portuguesa do século XX, por Mário César Lugarinho (USP)

Resumo: O historiador Fernando Rosas aponta que a emergência do Estado Novo, em 1933, introduziu o conceito de “homem novo” na sociedade portuguesa. Esse “homem novo”, submisso ao projeto de regeneração nacional da Ditadura, era a versão portuguesa do “homem novo” fascista e nazista. O conceito, presente nos discursos oficiais, floresceu na chamada “Literatura Colonial Portuguesa do século XX”, como se vê em obras literárias publicadas sob a chancela da Agência Geral das Colônias, como O Caminho do Oriente, de Jaime do Inso (1932), e O feitiço do Império, de Joaquim Mota Junior (1940). Nesta produção literária, o “homem novo” é o sujeito da portugalidade, a identidade nacional, que viria a compor um campo de ação da “missão” civilizadora do colonialismo português, meio fundamental para a efetivação do projeto de regeneração nacional do Estado Novo.

A formação das Literaturas Nacionais das ex-colônias portuguesas, por sua vez, aponta a emergência também de personagens que se identificam ao “homem novo”, mas de maneira diversa àquela proposta pelo colonialismo. O “homem novo” das Literaturas Africanas de Língua Portuguesa consistirá no sujeito da identidade nacional, expressa pela angolanidade, pela caboverdianidade e/ou pela moçambicanidade. Como “homem novo” virá a emergir de uma sociedade degenerada pelo colonialismo e apontará o caminho da regeneração e da estabilização nacional, como se percebe na leitura de Flagelados do vento leste, de Manuel Lopes (1960), Luuanda, de Luandino Vieira (1963) e/ou Nós matamos o cão tinhoso, de Luís Bernado Honwana (1965). Confrontados, o “homem novo” colonial e o “homem novo” anti-colonial, formam um quadro das masculinidades em momento solar das literaturas portuguesa e africanas de língua portuguesa no século XX que ecoará até a contemporaneidade.



Raça-etnia/interseccionalidades/crítica queer/periferias, por Emerson da Cruz Inácio (USP)

Resumo: A intervenção pretende expor e articular os operadores críticos anunciados no título com as investigações que este pesquisador vem desenvolvendo nos últimos anos, nomeadamente a imbricada relação entre escritura literária, identidades étnico-raciais, as sexualidades e as autonomeadas manifestações das periferias. A hipótese de trabalho parte do enunciado poético de W. Maiakovsky, para quem uma escrita transgressora demandaria uma forma que também rompesse com os padrões estéticos e, inclusive, genológicos. Assim, pretende-se descrever como os vetores raça-etnia / interseccionalidades / crítica queer / periferias se articulam na produção de um signo novo, que faz preponderar sobre o conteúdo estético também as demandas que redundam dos processos culturais, históricos e políticos.



Notas biográficas

Mário César Lugarinho é Professor Associado da Universidade de São Paulo na área de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa. É bolsista de produtividade em pesquisa (nível 2) do CNPq, recebendo sucessivos apoios desde 2001. É pesquisador associado do Centro de Estudos Comparatistas, da Universidade de Lisboa, e do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, da Universidade do Porto. Foi Professor Visitante na Universidade de Lisboa (2013-2014) e Visiting Scholar na Universidade de Macau (2015-2016). Possui graduação em Letras (1989) e especialização em Teoria Literária (1989) pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestrado (1993) e doutorado (1997) em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Fez estágio de pós-doutoramento na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (2002-2003) e no Centro de Estudos Comparatistas da Universidade de Lisboa (2012-2013). Prestou concurso de Livre-docência, para a área de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (2012). Foi Professor Associado do Instituto de Letras da Universidade Federal Fluminense, tendo atuado nas áreas de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa (1994-2007). Com outros pesquisadores, fundou em junho de 2001 a Associação Brasileira de Estudos da Homocultura (ABEH). Publicou livros (Portugal, Brasil), artigos em revistas especializadas e capítulos de livros, no Brasil e no Exterior. Possui experiência na área de Letras, com ênfase em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e Literatura Portuguesa, principalmente nos seguintes temas: Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, Estudos Pós-coloniais, Estudos Culturais e Estudos Queer.

Emerson da Cruz Inácio é Professor Associado I da área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa, no Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), desde 2006; Livre Docente pela mesma IES (2016), com a tese ?Do corpo o canto, perfumada presença: o corpo, Fluxo-Floema e Novas Cartas Portuguesas, Doutor em Letras Vernáculas pela UFRJ (2006), sob a orientação do Prof. Jorge Fernandes da Silveira. Mestre em Letras e Graduado em Português-Literaturas pela UFF. Concentra suas abordagens sobre o Comparatismo Literário / Literatura Comparada, particularmente nos possíveis diálogos entre as Literaturas de Língua Portuguesa, com atenção às relações literárias e culturais entre Brasil e Portugal. Entretanto, procura estar atento aos diálogos da Literatura com outros sistemas semióticos, em particular com a Música Popular Brasileira nas suas diversas manifestações, em particular com o Rap. Por acreditar que não há hierarquias entre as diversas manifestações da palavra escrita e falada, nem entre o centro e as margens, tem se dedicado aos estudos sobre os cânones, as sexualidades, a teoria queer e as manifestações estéticas das afrodescendências. Predileções e práticas de sala de aula? Poesia Contemporânea de Língua Portuguesa, Teoria Queer, Gênero, Sexualidades e Diversidade Sexual, Estudos Culturais, produções periféricas e marginais, focalizando a tensão e a convergência desses objetos culturais com a crítica literária, o corpo, a subjetividade, a cultura e a formação dos cânones literários. Pós-Estruturalista por escolha.