Teses Defendidas
Futebol, raça e nação em Portugal
27 de Março de 2019
Democracia no Século XXI
Silvia Rodríguez Maeso
Este trabalho parte da ideia de que o estudo do futebol em Portugal é uma forma de compreender a história contemporânea do país. O estabelecimento de um diálogo entre a teoria social e a literatura crítica sobre sociedade e desporto permite clarificar o modo como a tese da homogeneidade racial, entendida enquanto pretensa condição natural das nações europeias, se produz e reproduz a partir do contexto do futebol português.
Dadas as limitações teóricas que assinalam os estudos sobre desporto, racismo e identidade nacional, a presente investigação coloca em evidência a capacidade extraordinária do futebol em condensar os imaginários de raça e identidade nacional. Mostra-se, portanto, em que medida os moldes nos quais assenta o debate no contexto europeu não permitem captar como a ideia de raça opera enquanto marcador da europeidade. Neste sentido, o desafio às teses dominantes demonstra a necessidade de problematizar a ideia de nação a partir da produção crítica sobre raça, racismo e eurocentrismo.
A desconstrução da tese da homogeneidade racial que percorre os imaginários europeus implica, primeiramente, o reconhecimento de que o racismo contemporâneo se encontra enraizado em séculos de opressão. Esse reconhecimento requer o abandono da tese - hegemónica dentro e fora da academia especializada - segundo a qual o racismo assenta em 'preconceitos' e 'atitudes' de uma minoria da população. Assim, defende-se que, longe de se poder considerar um epifenómeno na história do pensamento ocidental, a noção de raça é constitutiva da própria modernidade.
A componente empírica da presente investigação, ao evidenciar o modo como as culturas do futebol em Portugal naturalizam a ideia de que o 'outro' não cabe nas fronteiras da portugalidade, confirma que a nação não é percecionada como sendo multirracial. Conforme se destaca, a análise crítica das narrativas edificadas em torno do Sport Lisboa e Benfica e da Associação Académica de Coimbra demonstra que a construção da ideia de nação se encontra profundamente ligada ao passado colonial. Deste modo, não obstante o fim formal do colonialismo, a tese da excecionalidade portuguesa continua a ser permanentemente mobilizada.
Além de problematizar as narrativas que acompanharam a história dos referidos clubes, a pesquisa empírica mostra que esse dispositivo ideológico é determinante para se compreender os discursos produzidos e veiculados pelos media, reforçando, assim, a tese de que não é possível, no Portugal contemporâneo, pensar a nação sem se ter em conta o modo como se articula com raça e racismo.
Palavras-chave: futebol; raça; racismo; nação; Portugal
Data de Defesa
Programa de Doutoramento
Orientação
Resumo
Dadas as limitações teóricas que assinalam os estudos sobre desporto, racismo e identidade nacional, a presente investigação coloca em evidência a capacidade extraordinária do futebol em condensar os imaginários de raça e identidade nacional. Mostra-se, portanto, em que medida os moldes nos quais assenta o debate no contexto europeu não permitem captar como a ideia de raça opera enquanto marcador da europeidade. Neste sentido, o desafio às teses dominantes demonstra a necessidade de problematizar a ideia de nação a partir da produção crítica sobre raça, racismo e eurocentrismo.
A desconstrução da tese da homogeneidade racial que percorre os imaginários europeus implica, primeiramente, o reconhecimento de que o racismo contemporâneo se encontra enraizado em séculos de opressão. Esse reconhecimento requer o abandono da tese - hegemónica dentro e fora da academia especializada - segundo a qual o racismo assenta em 'preconceitos' e 'atitudes' de uma minoria da população. Assim, defende-se que, longe de se poder considerar um epifenómeno na história do pensamento ocidental, a noção de raça é constitutiva da própria modernidade.
A componente empírica da presente investigação, ao evidenciar o modo como as culturas do futebol em Portugal naturalizam a ideia de que o 'outro' não cabe nas fronteiras da portugalidade, confirma que a nação não é percecionada como sendo multirracial. Conforme se destaca, a análise crítica das narrativas edificadas em torno do Sport Lisboa e Benfica e da Associação Académica de Coimbra demonstra que a construção da ideia de nação se encontra profundamente ligada ao passado colonial. Deste modo, não obstante o fim formal do colonialismo, a tese da excecionalidade portuguesa continua a ser permanentemente mobilizada.
Além de problematizar as narrativas que acompanharam a história dos referidos clubes, a pesquisa empírica mostra que esse dispositivo ideológico é determinante para se compreender os discursos produzidos e veiculados pelos media, reforçando, assim, a tese de que não é possível, no Portugal contemporâneo, pensar a nação sem se ter em conta o modo como se articula com raça e racismo.
Palavras-chave: futebol; raça; racismo; nação; Portugal