Teses Defendidas

Há vila alem da costa. Urbanidades em Cabo Verde, século XIX.

Fernando de Jesus Monteiro dos Reis Pires

Data de Defesa
7 de Julho de 2017
Programa de Doutoramento
Patrimónios de Influência Portuguesa
Orientação
Luísa Trindade e António Correia e Silva
Resumo
É dado adquirido que os principais núcleos urbanos em Cabo Verde formaram-se e desenvolveram-se em torno de um porto de mar. Considerando que se trata de ilhas, que dependem do mar para comunicação e comércio, tal afirmação não parece ser contestável e confirma-se em dois momentos fundamentais na história do arquipélago, nos séculos XV-XVI, quando a base económica era o tráfico de escravos, e no século XIX, quando a navegação a vapor se afirma. Em ambas as conjunturas as protagonistas são as cidades-porto que a bibliografia já referenciou: Ribeira Grande e Praia na ilha de Santiago, e Mindelo, na ilha São Vicente. Contudo, e sem negar a imprescindível relação com o mar, a urbanização das ilhas não ocorre apenas na costa. Fruto de um longo processo de ruralização, outros núcleos de povoamento despontaram no interior de outras ilhas. São povoações, assim identificadas, de base agrária, que já no século XVIII pareceram suficientemente populosas para receberem o título de vilas e que ao longo do século XIX se pretendem afirmar como tais. É objetivo desta tese dar a ver e discutir esse processo de afirmação e de criação de novas vilas em Cabo Verde no século XIX apresentando os casos da Vila da Ribeira Brava, na ilha de São Nicolau, da Vila da Ribeira Grande, na ilha de Santo Antão e da Vila Nova Sintra, na ilha Brava. Cada um destes exemplos problematiza de maneira específica algumas das vicissitudes dos processos de transformação urbana no arquipélago. As vilas estudadas foram desenhadas, literal e metaforicamente, sobre as povoações já existentes, confrontando o modelo urbano com a base de ocupação rural. Pode dizer-se que estas vilas emergiram de dentro das povoações rurais que lhes antecederam. Tal é relevante na medida em que a aparente continuidade dos processos terá contribuído para a sua relativa 'invisibilidade' historiográfica. Consequentemente, é também objetivo desta tese reverter este quadro, chamando a atenção e estudando, precisamente, tais processos de transformação aparentemente 'invisíveis'. Estes retomam métodos e formas longamente utilizados no urbanismo português, onde a persistência dos resultados é significativa e para os quais os exemplos de Cabo Verde trazem dados relevantes, que não são tão discretos quanto parecem. Muito pelo contrário, são especialmente significativos. Além do que representam em si, cumpre ainda questionar o papel que estas novas vilas desempenharam na organização e estruturação territorial do arquipélago. Trata-se de outro objetivo desta investigação. Em síntese, o que se pretende com esta tese é colmatar uma lacuna nos estudos relativos à formação territorial e urbana de Cabo Verde, trazendo à discussão o papel das pequenas vilas, muito especialmente as vilas do interior das ilhas que, a nosso ver, não podem ser ofuscadas pelo 'brilho' das cidades-porto. São-lhes efetivamente complementares e este é outro dos aspectos que pretendemos demonstrar com esta investigação.

Palavras Chave: Cabo Verde, Urbanização, Século XIX, Vila da Ribeira Brava (São
Nicolau), Vila da Ribeira Grande (Santo Antão), Vila Nova Sintra (Brava)