| | Erik Olin Wright | | | |
Análise de Classes, História e Emancipação
(pp. 3-35)
| | | Apesar de, em sentido estrito, o descalabro dos regimes comunistas não implicar uma refutação do marxismo enquanto teoria social, a verdade é que os acontecimentos dos finais dos anos 80 contribuiram para acentuar, no espírito de muitos intelectuais radicais, um sentimento crescente de autoquestionamento e de perplexidade quanto à viabilidade e à utilidade futura do marxismo. Embora continuando a acreditar que o marxismo é ainda hoje uma tradição vital a partir de dentro da qual se torna possível produzir uma ciência social emancipatória, o autor considera que, para poder continuar a desempenhar este papel, o marxismo tem de ser reconstruído em moldes diferentes. Para tanto, esboça neste trabalho, em traços gerais, os contornos fundamentais dessa reconstrução, com especial incidência no problema da análise de classes. | |
| | | | Michael Burawoy | | | |
Dois Métodos à Procura da Ciência. Skocpol versus Trotsky
(pp. 37-88)
| | | Nos termos dos critérios formulados por Popper para o crescimento do conhecimento, tentei demonstrar a superioridade da metodologia dos programas de investigação sobre a metodologia da indução. Apesar de ter usado como ilustração as teorias da revolução elaboradas por Skocpol e Trotsky, construí asserções gerais organizadas em torno dos contextos da descoberta (indução versus dedução) da justificação (verificação versus falsificação e previsão) e do cientista (exterior ao objecto do conhecimento ou como parte integrante desse mesmo objecto). Enquanto os filósofos da ciência se preocuparam com descobrir o método científico puderam, com êxito, compartimentar estes contextos. Contudo, logo que se preocuparam com explicar o desenvolvimento do conhecimento científico, rapidamente descobriram, como nós, que estes contextos estão irremediavelmente interligados. Assim sendo, são necessárias categorias alternativas para comparar metodologias. | |
| | | | António Pedro Pita | | | |
O Marxismo na Constituição Ideológica e Política do Partido Comunista Português
(pp. 89-108)
| | | O artigo esboça a análise dos princípios teóricos constituintes do pensamento de onde emergiu o colectivo do Partido Comunista Português. A abordagem dos escritos doutrinários de Bento Gonçalves, de alguns artigos de José Rodrigues Miguéis e do jornal Liberdade é o meio para levantar algumas hipóteses: 1. a moldagem da ideologia política do PCP, desde 1929, pelo leninismo na sua versão estaliniana; 2. o compromisso entre este "marxismo-leninismo" e o positivismo dominante na área republicana; 3. os efeitos múltiplos de um tal compromisso: as necessidades da unidade anti-fascista como elemento de bloqueio de uma elaboração autónoma do marxismo, no período referido. | |
| | | | José Veiga Torres | | | |
Da Repressão Religiosa para a Promoção Social. A Inquisição como instância legitimadora da promoção social da burguesia mercantil
(pp. 109-135)
| | | Neste artigo pretende-se demonstrar, com dados, estatísticos sobre as nomeações dos elementos dos quadros burocráticos da Inquisição Portuguesa, que a actividade histórica (1536-1821) dessa instituição não pode ser perspectivada apenas em termos de repressão, mas que terá também de ser perspectivada em termos de promoção social.
Esta demonstração implica a necessidade de uma teorização global do papel histórico desempenhado pela Inquisição na sociedade portuguesa, que passe pela especialização funcional adquirida pela burocracia inquisitorial na investigação linhagística, e do seu objectivo instrumental, que era o da diferenciação e exclusão social da "impureza de sangue". | |
| | | | João Freire | | | |
O Auto-emprego: alguns comentários sobre dados recentes
(pp. 137-151)
| | | Aborda-se o fenómeno do auto-emprego, uma modalidade de actividade económica cujo significado nas sociedades industriais de economia de mercado não tem recebido reconhecimento social equivalente à sua importância efectiva. Após identificar uma série de factores que permitem contextualizar a relevância actual do fenómeno em análise, o autor, apoiando-se nos dados do Censo de 1991 já disponíveis e nos resultados de um inquérito recente, ensaia um conjunto de comentários com vista à caracterização sociológica da situação portuguesa neste domínio. | |
| | | | José Manuel Mendes | | | |
As Identidades Sociais como Políticas e como Estratégias: o caso dos Açores
(pp. 153-172)
| | | Partindo da distinção entre identidades primárias e identidades secundárias ou imaginadas, procura delinear-se algumas hipóteses sobre o processo de (re)produção das identidades sociais, tendo como contexto o caso dos Açores. A análise foca dois planos distintos:
a construção institucional e oficial (por parte do Governo Regional) do conceito de "açorianidade" (identidade imaginada);
o processo de construção da identidade pelos agricultores, que, a partir da integração europeia, conduziu a clivagens acentuadas entre gerações.
Conclui-se que, no plano teórico, conceitos como cultura e identidade nacional e/ou regional não demonstram grande riqueza heurística. A análise das "idioculturas", no sentido de Gary Alan Fine, parece apresentar maiores virtualidades, ou seja, as formas culturais devem ser conceptualizadas como tendo origem no contexto dos pequenos grupos e/ou nas redes sociais existentes. | |
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