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Nº 37
Junho de 1993
Sociologia do quotidiano
ISSN 0254-1106 e ISSN eletrónico 2182-7435
  Entre Dom Quixote e Sancho Pança - Boaventura de Sousa Santos  
 
Michel de Montaigne
  Da Experiência  (pp. 11-32)
 "Viver não é só uma ocupação fundamental, mas também a mais nobre de todas"
 
João Arriscado Nunes
  Erving Goffman, A Análise de Quadros e a Sociologia da Vida Quotidiana  (pp. 33-49)
 A análise sociológica da vida quotidiana e a obra de Erving Goffman estão estreitamente associadas. Neste artigo, é discutida a relevância do principal trabalho de Goffman, Frame Analysis, para esse domínio da sociologia e são apresentados, de forma breve e selectiva, a abordagem e os conceitos aí propostos.
 
Pedro de Andrade
  Sociologia da Viagem: O quotidiano e os seus inter-trajectos  (pp. 51-77)
 O autor procura delimitar as formas mais significativas da viagem, investigando a presença, cada vez mais marcada, de ritmos genuinamente quotidianos em fenómenos como os que denomina de turismo crítico, contra-turismo e inter-viagem.
 
Moisés de Lemos Martins
  A Epistemologia do Saber Quotidiano  (pp. 79-103)
 Interroga-se aqui o saber da nossa vida quotidiana do ponto de vista de uma teoria da produção do sentido. A reflexão faz-se a partir de três registos: 1) a partir do registo linguístico, porque significar é antes de mais nada um problema de linguagem; 2) a partir do registo epistemológico, porque significar é um problema sobre a possibilidade de um saber e sobre a possibilidade da sua construção; 3) a partir ainda do registo sociológico, dado serem construções sociais os nossos próprios esquemas mentais. Sempre na perspectiva de uma teoria da construção do sentido, temos presente o debate que na actualidade opõe a lógica racionalista (moderna) à lógica existencial (pós-moderna), e defendemos que a produção do sentido não pode reduzir-se ao poder instituinte de uma intenção do Mesmo, nem ao poder representativo de uma Erlebnis (experiência).
 
José Machado Pais
  Nas Rotas do Quotidiano  (pp. 105-115)
 Perspectivando a sociologia do quotidiano como uma sociologia "retratista" — no sentido em que Simmel utilizava os seus snapshots — exploram-se os caminhos de encruzilhada entre a rotina e a ruptura, nos quais se revela a construçäo do social através das rotas do quotidiano. Conclui-se que as rotas do quotidiano näo obedecem a uma lógica de "demonstraçäo", mas antes a uma lógica de "descoberta" na qual a realidade social se insinua, conjectura e indicia, através de uma percepçäo descontínua e saltitada do social que a sociologia do quotidiano assegura no seu vadiar sociológico.
 
Adriano Duarte Rodrigues
  Para uma Sociologia Fenomenológica da Experiência Quotidiana  (pp. 117-129)
 Partindo da distinção entre saber científico e saberes que os actores sociais investem na sua vida quotidiana, este artigo procura definir a constituição de uma sociologia fenomenológica como quadro susceptível de dar conta dessa experiência. Multiplicidade dos mundos da experiência, estabelecimento do mundo comum e do mundo próprio, perfil da identidade, sentido da interacção social, desencontros dos quadros que delimitam o horizonte da experiência própria, regularidades e regras processuais de constituição do mundo comum, relação entre experiência e experimentação, são algumas das questões julgadas pertinentes para a constituição de uma sociologia fenomenológica da experiência quotidiana.
 
José Vicente Tavares dos Santos
  A Cidadania Dilacerada  (pp. 131-148)
 Investigam-se as formas de violência rural no Brasil como contributo para a definição dos modos de produção da cidadania dilacerada que marca a sociedade brasileira deste final de século.
 
Nuno Porto
  Reflexões Antropológicas: Um percurso bibliográfico  (pp. 149-157)
 Partindo de um entendimento da Antropologia como uma ciência interpretativa, leva-se a efeito um breve percurso bibliográfico por alguns textos importantes para a discussão contemporânea. As várias propostas equacionadas têm em comum a revalorização da reflexividade como ponto de partida para uma renovada consciência epistemológica atenta aos diversos níveis de complexidade que acompanham o trabalho do antropólogo.
 
Olga Maia Seco e Pedro Lopes Ferreira
  Algumas Estratégias para a Melhoria da Qualidade dos Serviços de Saúde  (pp. 159-172)
 A satisfação dos utentes em relação ao seu estado de saúde e aos cuidados prestados pelas instituições de saúde não tem acompanhado a melhoria substancial do estado de saúde da população. Face a esta situação, há que agir, apresentando uma imagem mais correcta dos serviços de saúde e prestando uma melhor qualidade de cuidados de saúde. E esta melhor qualidade passa, necessariamente, não só pela melhoria técnica dos serviços prestados, mas também por um melhor acesso à saúde, por uma melhor informação relativamente ao próprio estado de saúde do doente, pelo carinho com que este é tratado e pela atenção dedicada aos seus sentimentos e valores. Neste artigo analisamos alguns conceitos considerados pilares fundamentais para a melhoria contínua da qualidade, nomeadamente os conceitos de processo e de consumidor, a necessidade de se estudar a variação e, por fim, a utilização de ferramentas científicas para a gestão da qualidade.
 
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