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Cidade e espetáculo: a cena teatral luso-brasileira contemporânea Orgs: Carlos Fortuna, Lucia Bógus, Maria Corá e José Junior |
Os textos que compõem este livro são apenas pré-textos que convidam a refletir sobre a cidade como eterna representação.
Sabemo-lo bem, tal cidade-representação corresponde ao clássico theatron : aquilo que tem de ser visto. Nunca forma outra coisa, as cidades. Umas vezes no seu todo, outras vezes no detalhe dos seus recantos de vida e arquitetura, a cidade é aquilo que merece ser visto. Assim, a cena urbana mistura-se, justapõe-se e confunde-se com a cena teatral. Desdramatiza-se a cidade desse modo, num ato que se desdobra em contínua fabricação da neoteatralidade. A cidade neoteatralizada é a cidade que se descobre e revela e torna-se natural a cada momento. Pela mão do teatro, mas pelas suas próprias mãos também. Mostra as disparidades e as caóticas misturas de sentidos de que é feita. Admiração e repulsa, desdém e melancolia. O drama sempre renovado da urbanidade é o theatrum mundi, o palco único, dos nossos dias. Tão brutal naquilo que revela como naquilo que esconde. Luzes, por favor! Nada pode ficar encoberto. Tudo tem que ficar encoberto. Tudo tem que ser revelado, e a cidade tornada mais consciente de si. Mais autorreflexiva.
O teatro da cidade é política e culturalmente capacitante. Amplia e reforça a condição dos sujeitos-atores. Não pode haver cidade sem teatro. Na verdade, toda a cidade é teatro.
Carlos Fortuna